O autor não adopta o novo Acordo Ortográfico
René
René calculava que após o seu casamento, com o passar dos dias, o entusiasmo e apetite sexual da sua insaciável mulher se fosse desvanecendo. Como se enganava! Ela conseguia aumentar sempre o nível das exigências, de tal maneira, que ele, campeão em muitas actividades, se começava a convencer que, pela primeira vez na sua vida, teria de desistir.
O pior era que Cacilda não se limitava a gozar os momentos de prazer carnal que o corpo do seu atlético e bem fornecido marido lhe proporcionava, mas fazia questão de os reproduzir em gemidos, gritinhos, berros e urros, conforme a progressão dos preliminares e do finalmente. De tal maneira, que René estava a ficar com a séria convicção que a frequência da esplanada do café Ensaio começava a registar um aumento considerável de clientes a partir das nove horas da noite, para ouvirem um espectáculo em que a imaginação tinha um papel preponderante porque, felizmente, as paredes diz-se que têm ouvidos, mas que se saiba, não têm olhos. Os mais incrédulos com as perfomances imaginadas diziam que os sons saiam de colunas de alta potência como, por exemplo, as implantadas em automóveis que fazem estremecer as estradas e quem sabe se um dia não virá a descobrir-se que derrubam pontes, como aquela de Entre-os-Rios.
Enganou-se, outra vez, nessa sua suposição! Para Cacilda, tudo era um bom pretexto para fazer amor, para experimentar uma nova posição, uma nova maneira de introduzir os instrumentos topo de gama do seu marido nos orifícios de que dispunha. Em alguns casos, mais do que meter o Rossio na Betesga, era fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha sem a ajuda dos óleos indicados para esses casos difíceis, o que não quer significar que sejam santos óleos.
No pouco tempo que tinha para pensar com a cabeça certa, o bom do René tinha chegado à conclusão que havia qualquer coisa de estranho nos relatos que lhe faziam dos acontecimentos na Quinta da Fonte da Prata. Desde logo, com a morte de Ralho (no final da vida sua já não de davam ao trabalho de pronunciar o seu nome todo, não fosse ele entretanto morrer) que começou a ficar cada vez mais negro e com o cheiro do alho sempre omnipresente.
Tendo na cabeça superior estas dúvidas (na outra não tinha), começou a preparar uma expedição à Quinta da Fonte da Prata, sem conhecimento da sua mulher, o que bem vistas as coisas, até nem era muito difícil, porque ela estava sempre a planear como seria a próxima sessão de sexo, e não tinha tempo para se preocupar com ninharias.
Comprou um equipamento de alpinista, com um gorro, uma lanterna de cabeça daquelas usadas pelos mineiros, botas com protecção metálica, daquelas que os operários das obras usam raramente, diversos tipos de alicates, filtros daqueles usados para respirar em ambientes com pó, ou zonas com vulcões em actividade, ou com centrais nucleares problemáticas.
Cacilda acabou por reparar, que no estúdio do seu marido estava uma mochila enorme, muito pesada, fechada a cadeado, a que ela não tinha acesso. Não conseguiu resistir e perguntou ao marido qual era a finalidade de tanto segredo.
Quando ela lhe fez a já esperada pergunta, ele tinha pronta a óbvia resposta:
– Estou a preparar uma sessão de sexo para o dia dos teus anos da qual te vais recordar por toda a vida!
O resultado desta resposta deu para René ficar descansado sobre a razão da existência da mochila, mas Cacilda, que tinha pontos G por todo o corpo, das unhas dos pés até à ponta dos cabelos, começou de imediato a contar cada segundo, espalhando por toda a casa calendários com os dias que faltavam e que terminavam invariavelmente num sonoro: É hoje!
René conseguiu assim uns dias para preparar em paz a expedição à misteriosa Quinta…
Para escolher o melhor dia e hora, ele fez como os pescadores: leu a tábua da lua e das marés, e chegou à conclusão que teria de partir de casa num dia de Lua Nova, com céu nublado, à uma hora da madrugada, para chegar por volta das duas ao objectivo.
Na noite escolhida, excedeu-se em voluptuosos exercícios amorosos, de tal maneira que Cacilda já dormia a sono solto antes da uma da madrugada, para frustração dos habituais ouvintes do programa. Mesmo assim, deixou-lhe um bilhete para ela não ficar preocupada no caso de acordar sem ainda ter regressado.
Saiu de casa, mochila às costas e com o seu passo de tigre a preparar o ataque à presa. Habituado como estava a deslocar-se silenciosamente, nem os cães das quintas que atravessou notaram um vulto indistinto que se esgueirava furtivamente, aproveitando todas as lombas do terreno e todas as sombras, como se fosse a levitar, o que não é coisa pouca para alguém com o seu peso e envergadura.
Quando se aproximou da Quinta, verificou que tudo o que tinha estudado da sua arquitectura não lhe valia de nada: à noite todos os edifícios são pardos.
Tinha bem presente os relatos repetidos do infortunado Ralho e da afortunada Cacilda e, talvez por isso, conseguiu descobrir a entrada para o subterrâneo onde tinha sido encontrado o tesouro. Deslizou como uma serpente pela estreita abertura e entrou no amplo salão, sustentado por três colunas, que estava completamente vazio.
Começou a inspeccionar, metodicamente, como arqueólogo que era, todo o espaço, dividindo-o em quadrículas meticulosas.
Olhou o relógio: duas da manhã. Tinha quatro horas para tirar todas as dúvidas.
O piso irregular fazia-lhe lembrar o da capela de Alhos Vedros, cheio de protuberâncias e reentrâncias, facto que lhe dificultava imenso a progressão.
O seu procedimento começou por ser sistemático e cuidadoso. Com o pequeno martelo escavava um pouco, batia nos pequenos pedaços de pedra e nas lajes que pareciam estar na sua posição original, para tentar distinguir algum som estranho.
Pressionado pelo tempo, que se esgotava como se Einstein tivesse reinventado a relatividade, resolveu analisar o resto da quadrícula numa visão de conjunto. Como por acaso (não há acasos), a luz teve um reflexo dourado que lhe despertou a atenção. Ao aproximar-se, viu num azulejo o desenho de um olho e na pupila uma saliência como se um prego dourado lhe tivesse sido espetado.
Com a escova começou a retirar cuidadosamente os detritos que o cobriam, até ficar a descoberto todo o azulejo. Com o dedo indicador pressionou levemente a pupila dourada. Não aconteceu nada. Aumentou a pressão com o mesmo resultado. Com o pequeno martelo pontiagudo deu-lhe uma ligeira pancada. Ouviu de imediato um ruído, que no silêncio reinante, lhe pareceu o som do trovão. Atrás de si, juraria que cinco palmos abaixo do olho e três palmos para a esquerda, como por magia, uma pesada laje começava a levantar-se. Aproximou-se, cuidadosamente, com todos os sentidos alerta. Quando o ruído cessou, a laje estava na vertical deixando à vista uma entrada para o desconhecido.
Lançou o foco de luz para o buraco aberto a seus pés mas não conseguiu ver o fundo. Com as mãos agarradas solidamente no rebordo da entrada deixou-se deslizar de cabeça para baixo. Quando conseguiu acalmar a sua respiração ofegante, não sabia se mais pela emoção, se pelo esforço, escutou o agradável ruído da água a correr.
Pegou na corda fina e resistente, atou-a a um pilar com um nó de estribo ou de alpinista, como também é chamado, e deixou cair os trinta metros de corda pelo poço. Seria o suficiente para descobrir o mistério da corrente subterrânea? Tinha dúvidas, mas não tinha medo!
Começou a descida com os cuidados que se impunham para evitar uma possível queda no inferno.
Apesar de descer lentamente, depressa chegou ao fim da corda. Com a lanterna dirigida para o fundo julgou distinguir alguns reflexos que poderiam ser da água ou da sua imaginação. Olhando à volta conseguiu distinguir as paredes escuras e húmidas que o rodeavam. Um ponto despertou-lhe a atenção: o poço parecia ter saliências, que se poderiam chamar de degraus, como se os misteriosos construtores daquela obra o estivessem a convidar para continuar a descida. O que seria um problema para um indivíduo normal era, para ele, uma brincadeira de crianças. Começou a balançar o cabo com o movimento pendular do seu corpo e, no momento certo, largou-se, voando até à parede onde se agarrou como se as suas mãos tivessem ventosas.
Depois de normalizar a respiração, começou a deslocar-se na direcção do som da água que aumentava de intensidade à medida que descia.
Os degraus terminaram abruptamente. Agora, a parede lisa desaparecia como se o buraco alargasse para a escuridão. Uns metros mais abaixo, era difícil calcular quantos, sem pontos de referência, julgava distinguir a água ligeiramente ondulada, que fazia um ruído mais forte, como se houvesse algures uma queda de água.
Uma pergunta martelava a sua mente: Que fazer? Voltar para trás à beira de descobrir o segredo que podia revolucionar a história do Concelho e talvez responder aos mistérios que permanecem sem resposta, como a origem do poço de Alhos Vedros, o caminho secreto dos Templários para o Castelo de Palmela?
A resposta foi dada de imediato. Largou-se da corda, pernas ligeiramente flectidas, com os bicos dos pés a indicar a direcção da queda, o queixo encostado ao peito, as pontas dos dedos das mãos a tocarem a nuca.
Aterrou numa caixa de areia que parecia estar ali há séculos para o receber.
Olhou em volta e não teve dúvidas que tinha encontrado um local de reunião, para um número restrito de eleitos. Cavada na rocha estava uma mesa redonda e quatro bancos maciços de pedra. A parede mais próxima tinha a inscrição, ad arcem, que até ele, com o seu incipiente latim, sabia traduzir como “caminho para o castelo” e o desenho de uma seta.
O seu espírito aventureiro sobrepôs-se ao do cientista. Aproximou-se da água e depois de a cheirar e provar na concha das mãos, bebeu sofregamente. O caminho indicado pela seta tinha uma ligeira subida e o tecto parecia descer ao encontro da sua cabeça à medida que avançava, até que começou a caminhar curvado, depois de joelhos e agora, a rastejar. Na sua frente estava um buraco estreito com uma luz que encadeava a ponto de lhe fazer doer os olhos. Não havia maneira de a enfrentar visto que os tinha dilatados para verem na escuridão em que tinha estado mergulhado nas últimas horas. Com o lenço do pescoço vendou-os para filtrar a luz e poder avançar. O seu jeito de contorcionista fez o resto.
Após longos minutos, tirou a venda e começou a abrir os olhos, lentamente.
Não sabia se os seus olhos se escancaravam de espanto por ordem do seu cérebro ou do deslumbramento que o invadia. À sua frente estava uma caverna imensa banhada por uma luz que saía de centenas de pontos brilhantes, não deixando que qualquer sombra invadisse o mais ínfimo espaço daquela esplendorosa gruta.
Olhou o relógio para ver o tempo que lhe restava. Já devia estar a caminho de casa e ainda faltava enfrentar as dificuldades da subida. Tinha de deixar a exploração da gruta para a noite seguinte.
Teve de se socorrer de todos os seus recursos atléticos e experiência de escalada para chegar aos degraus. Já na rocha firme, agachou-se com as pernas tensas como molas, lembrando a si próprio que não podia hesitar, porque só havia uma oportunidade para se segurar, e que depois de agarrar a corda teria de resistir à tentação de aliviar a pega quando as suas mãos começassem a queimar ao deslizar por ela, até conseguir parar o seu corpo em queda livre. Lançou-se no espaço e fechou as mãos na corda, fazendo por esquecer a dor lancinante da queimadura por atrito nas suas mãos. Depois de tudo isto, os trinta metros de subida até ao claustro foi feito com facilidade.
No caminho para casa, lembrou-se da artimanha que os arquitectos das pirâmides usavam para enganar os ladrões. Tinham diversas entradas, um autêntico labirinto, onde não poucos perderam a vida, sem encontrarem tesouros e muito menos a saída. Algumas vezes, até o seu construtor lá ficava enterrado para o faraó ficar com a certeza que o segredo seria guardado para toda a eternidade.
Os Templários para guardarem os seus segredos mais valiosos punham como isco um tesouro menor, mais fácil de alcançar, para que algum ladrão profissional ou ocasional julgasse encontrar o verdadeiro tesouro e abandonasse as pesquisas. Para além disso, colocavam-nos em diversas localizações, à semelhança dos fundos actuais que colocam os capitais por diversas aplicações, minorando as perdas e aumentando os lucros.
A caminho de casa a sua mente estava a traçar o plano para voltar à gruta das maravilhas, sem conseguir qualquer resposta para as perguntas que lhe assaltavam o espírito: Quem e porquê escavara aquela gruta? Que luz era aquela? Quem é que tinha montado os mecanismos que continuavam a funcionar tão perfeitamente? Haveria outro tesouro mais valioso lá escondido?
Tão embrenhado estava nos seus pensamentos que só quando meteu a chave na porta se lembrou que Cacilda devia estar cheia de saudades… e ele tão cansado!
Os sacrifícios que um verdadeiro homem tem de fazer!
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
Capítulo 7
Um casal em forma de Península Ibérica
Bem, então o cenário que se nos oferece, a nós e ao leitor, é de uma cave subterrânea extensa, do tamanho de meio campo de futebol, cheia de pepitas de ouro, pedras e areias amontoadas como resultado da súbita eclosão e deitados no chão o Vítor Alho que, sem dar sinal de si, da cabeça sangrava e a Cacilda que em absoluto pânico chorava. Desalmadamente, chorava. O que fazer, perguntava eu, escritor, pela cabeça de Cacilda? Como continuar uma estória que aparentemente desabara. Sem saída para o exterior a estória não tinha mais saída. “Que fazer?”, perguntou de novo. E, de repente, acendeu-se a luz. Não a do subterrâneo, mas a dos pensamentos. Vou anexar uma fotografia.
Eis que, afinal, o chão do subterrâneo espelhava a luz do sol. Renascia a esperança, havia uma saída. O problema é que o orifício que dava entrada à luz não permitia a saída de um corpo. A abertura revelava-se demasiadamente estreita. Mas podia gritar-se. Gritar-se o mais que podia na esperança que alguém ouvisse. E Cacilda assim o fez. Começou a gritar. Não conseguia saber do resultado do esforço, e isso naturalmente que a deixava desesperadamente ansiosa, mas gritava. E gritou outra vez, e mais uma vez gritou. Ficou rouca. E nada. A sorte não se fez anunciar e Vítor Alho continuava a sangrar.
Sentiu-se desolada e derrotada. Sentou-se no chão e acariciou o rosto de Vítor e, claro que, como sempre acontecia lhe cheirou a alho. Ficou com a mão em sangue e lambeu-lhe o sangue. No desconforto dele sentiu o seu próprio desconforto. A fome, a sede e o frio foram-se instalando, a pouco e pouco. E, depois, aquele forte cheiro a bafio, a humidade dos lugares escuros e ermos, o tremendo medo que houvesse ratos, osgas, morcegos. Começou a cobrir-se com pepitas de ouro. A si e ao seu Vítor. E eram as pepitas de ouro que a alimentavam e defendiam, tal como eram elas que iam evitando que a alma de Vítor se esvaísse. Era verdade, a energia do ouro fazia milagres. Mas estranho cenário, o súbito encontro com a riqueza, o imenso brilho do ouro, afinal acabara por atrair a desgraça. Triste sina. Percebia agora com muita nitidez porque se falava tanto nos “diamantes de sangue”. A ganância de uns acabaria por dar sempre no prejuízo de outros. Mas, esperança acesa, cá se fazem, cá se pagam.
A noite instalou-se. Tanto foram as pepitas de ouro empilhadas que acabou por ficar com uma razoável mancha de céu como horizonte de sonhos. Todavia, escura, muito escura. Acabou por fechar os olhos e no meio daquele terror de silêncio ouvia o imponente respirar da noite, e acabou por se deixar de dormir por tanto sonhar em pesadelos. E nem dormia, nem sonhava. Agoniava. Lentamente agoniava no meio do pétrido sepulcro. Os terríveis espíritos das trevas invadiam-lhe as entranhas. E ao abrir os olhos acrescentavam-se aqueles enigmáticos pássaros de fogo como um sinal incompreensível que o céu enviava.
Entretanto, haveria de se fazer dia. Outra coisa não seria de esperar. Mas antes de continuar a estória permitam-me um pequenino desabafo. “FODA-SE, SÓ AQUELES GAJOS É QUE ME FAZIAM PASSAR UMA TARDE DE SÁBADO A ESCREVER UMA HISTÓRIA COMO ESTA”. Mas, pronto, como é com amizade e carinho, adiante. Em prole do futuro, dos nossos filhos, e desta incrivelmente surpreendente humanidade, adiante. Só por isso não me importarei de cá vir outra vez. Mas se acaso tiver de vibrar na paz dos anjos, ilhas de amores, decerto que adianto. Assim seja!
Deixem-me sonhar, diria o José Torres.
(É verdade que os leitores mais jovens e estrangeiros não perceberão nada do que se acabou de dizer, mas basta passar á frente porque a interjeição não é para explicar.)
(É verdade que os leitores mais jovens e estrangeiros não perceberão nada do que se acabou de dizer, mas basta passar á frente porque a interjeição não é para explicar.)
E, pronto, agora vai ser em forma de resumo que é para não maçar mais. O Vítor Alho e a Cacilda acabaram por ser salvos dos escombros. As obras de restauração do Palacete da Quinta da Fonte da Prata acabaram por dar à luz dois corpos poeirentos, pálidos, magricelas, salvos pelo brilho do ouro e dos pássaros de fogo que não mais os abandonaram. O Vítor Alho, "temos pena" como diz a minha vizinha, nunca mais recuperou do acidente. Perdeu grande parte da memória, estranhava-se a si próprio, não reconhecia a Cacilda como sua esposa, renunciou a viver com ela, reformou-se e arrastou-se pela vida, até ao anunciado fim. Igualmente, os “touros de morte” varreram-se definitivamente. Entretanto, René Magrite, consternado, veio de visita. O Vítor não o reconheceria. Tão triste ficara René. Mas não se perdeu tudo. São tantas e misteriosas as voltas que a vida dá que acabou por se apaixonar por Cacilda. Tudo aconteceu quando Cacilda o convidou para irem juntos ver um jovem cantor, sevilhano, que tocava “Flamengo”. E eis que no meio de um ardente desejo que só a música trás, puxou dos lábios dele e entornou-os violentamente contra os seus. E agora René Magrite, ficas por cá, regressas à Bélgica, ou matas definitivamente as saudades e retornas ao Congo Belga?
Entretanto, eia a música que produz milagres e que juntou definitivamente o amoroso par como se da Península Ibérica inteira se tratasse:
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